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Terça-feira, 11 de Novembro 2025

Brasil

Casamento Infantil: Uma Chaga Que Resiste Ao Tempo

O Censo 2022 Do Ibge Revelou Um Dado Que, A Despeito De Parecer Anacrônico, Ainda Mancha O Retrato Da Sociedade Brasileira: Mais De 34 Mil Crianças E Adolescentes De Até 14 Anos Vivem Em Uniões Conjugais No País.

Robston Rial
Por Robston Rial
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Casamento Infantil: Uma Chaga Que Resiste Ao Tempo
Casamento Infantil. (Imagem: Jill Wellington Por Pixabay).
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A informação é oficial, resultado da autodeclaração dos próprios domicílios. E o número impressiona: são meninos e, sobretudo, meninas que já vivem experiências típicas da vida adulta — sem que tenham concluído sequer a infância.

Entre esses jovens, o Censo mostra que cerca de 87% dessas uniões são consensuais, ou seja, sem formalização civil ou religiosa, o que agrava a vulnerabilidade dessas meninas. O dado está detalhado pela Agência Patrícia Galvão, e demonstra que a naturalização das chamadas "uniões precoces" persiste no Brasil profundo, sobretudo em regiões marcadas por desigualdade, baixa escolaridade e ausência de políticas públicas.
 

O retrocesso travestido de tradição


Há quem tente justificar tais uniões sob o argumento da "cultura local" ou da "autonomia da família". Mas não se trata de tradição: é violação de direitos. É a negação da infância e da juventude — um tempo que deveria ser dedicado à formação escolar, à construção da identidade e ao amadurecimento emocional.

A Constituição Federal, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e a Convenção sobre os Direitos da Criança da ONU são explícitos em proteger o desenvolvimento integral do menor de 18 anos. Nada, portanto, justifica o Estado tolerar, e menos ainda legitimar, uniões de adolescentes — muito menos de crianças.
 

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O avanço de 2019: a correção de uma distorção


Até pouco tempo atrás, o próprio Código Civil brasileiro previa exceções que permitiam o casamento de menores de 16 anos em "casos excepcionais", como gravidez. Era o inciso II do artigo 1.521, interpretado em conjunto com o artigo 1.517. Essa brecha legal legitimava uma prática social e cultural perigosa: a ideia de que a maternidade precoce "justificaria" o casamento infantil.

Felizmente, a Lei 13.811/2019 corrigiu o equívoco histórico, proibindo o casamento de pessoas com menos de 16 anos, sem exceção. Ainda assim, o número de uniões precoces, como demonstram os dados recentes do IBGE, mostra que a mudança legislativa não foi suficiente para alterar práticas enraizadas.
 

Marcelo Santoro Almeida, professor de Direito de Família da Faculdade Presbiteriana Mackenzie Rio
Marcelo Santoro Almeida, professor de Direito de Família da Faculdade Presbiteriana Mackenzie Rio

 

União estável não é salvo-conduto

Alguns argumentam que a proibição legal se limita ao casamento formal, e não à união estável. Essa leitura é perigosa e distorce o espírito da lei. O Censo do IBGE mostra que as uniões consensuais (sem formalização civil ou religiosa) já superaram os casamentos no Brasil. Quando envolvem menores de idade, não há nada de
"consenso": há desigualdade etária, dependência econômica e, muitas vezes, coerção.

Sob o ponto de vista jurídico, tais uniões não produzem efeitos válidos — especialmente quando há incapacidade civil. Não se pode falar em "união estável" entre uma criança e um adulto, ainda que haja convivência.

A própria noção de consentimento perde sentido quando o suposto consentidor não tem maturidade para compreender o alcance de sua decisão.
 

O desafio cultural e jurídico

A persistência de uniões infantis revela que a lei sozinha não basta. É preciso atuação integrada do Estado: educação sexual nas escolas, campanhas públicas de conscientização, fortalecimento das redes de proteção e responsabilização de adultos que se envolvam com menores.

Trata-se de uma questão de direitos humanos, não de costumes. E, do ponto de vista jurídico, o casamento infantil é nulo — ou deveria ser tratado como tal em qualquer esfera. Nenhuma tradição pode se sobrepor ao direito fundamental à infância e à dignidade da pessoa humana.
 

O futuro que não pode esperar

Quando uma menina de 13 ou 14 anos entra numa "união conjugal", o que ela perde não é apenas o tempo: perde oportunidades, escolaridade, saúde, liberdade e voz. Cada uma dessas 34 mil crianças em situação conjugal representa um fracasso coletivo — da sociedade, do Estado e de todos nós que silenciamos diante do inaceitável.

A infância não é lugar de contrato, de partilha de bens ou de compromissos matrimoniais. É tempo de brincar, aprender e sonhar. Enquanto houver uma única criança brasileira vivendo sob a aparência de um casamento,
não poderemos dizer que somos uma nação civilizada.

FONTE/CRÉDITOS: Assessoria De Imprensa Faculdade Presbiteriana Mackenzie Rio - [email protected]
Robston Rial

Publicado por:

Robston Rial

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